Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

The Day Before You Came (2)

Concordo apenas com parte do que citei. E, claro, não me identifico com aqueles gostos musicais de adolescência; os meus eram (são) muito mais eclécticos, ou seja, incluem coisas bem mais pindéricas.

Não concordo que o sentimento inicial seja de que a letra é chata e deprimente. É um relatório minucioso que chama a atenção pela indiferença e apatia com que se reporta o próprio dia-a-dia. O compasso rítmico e o tom quase monocórdico acentuam este aspecto.

Também não acho que a letra ou o quotidiano entediante do sujeito sejam “salvos” pelo amor, muito menos por “milagre”. Creio que em vez de salvar daquela realidade, o amor originou outra perspectiva que passará tanto por alterar algumas das rotinas como por vivê-las com entusiasmo. A mudança operou-se no interior. E, mesmo sem aquela referência explícita no final (“It’s funny, but I had no sense of living without aim, the day before you came”), já o antes/depois estava explicado através da frase final que conclui cada verso e que é o título da música, para além de outras referências anteriores (“And at the time I never even noticed I was blue” e “Without really knowing anything, I hid a part of me away”).

Outra coisa que torna a letra interessante é o facto de o tema ser o "antes" mas relatado agora, isto é, "depois", num momento em que retomar o tom indiferente é uma manobra de caracterização que torna o relato mais eficaz.

Apesar de ser curto, estou mais de acordo com o que se escreveu aqui:

    The lyrics are beautifully subtle. The post-industrial living sans love is transcribed without incidents. No surprises, no maudlin sentimentalities, no emotional upheavals, and the song matched on plainly with a nonchalant tone and detailed routine, but only to describe the past.